Buscas, tendências e o impacto no ecossistema: um levantamento exclusivo do Google for Startups
As narrativas sobre negócios e tendências para 2020 mudaram com o início da pandemia da COVID-19 – e de forma inimaginável por todos nós. Não só isso, mas a dinâmica social imposta por esta realidade trouxe outros hábitos de consumo, alguns novos, outros que já cresciam antes do isolamento de forma tímida.
Com o início do distanciamento social, eu e o head de Estratégia e Operações do Google for Startups, Marcos Curi, falamos sobre a oportunidade de mapear e entender como as tendências de consumo mudaram com o novo cenário e de que forma essa realidade estava influenciando no negócio de startups e empresas.
Trabalhamos em um levantamento inédito para gerar insights sobre como a pandemia alterou o comportamento do consumidor. Indo além, o estudo nos motivou a entender como a nova dinâmica influenciou a estratégia das startups e impactou diretamente no awareness das marcas desde o início do distanciamento social.
Os resultados da pesquisa foram apresentados durante a conferência do Brazil at Silicon Valley e a metodologia e os principais insights que tivemos na elaboração do estudo estão neste artigo. Nosso objetivo é ajudar startups a entender o que o seu público-alvo está buscando e como o comportamento no novo normal impacta diretamente o ecossistema de inovação.
O que dizem os dados
Começamos avaliando os dados do Google Trends sobre as buscas feitas no Google nos meses de março e abril de 2020 em comparação com os últimos 12 meses. Depois, analisamos mais de duas mil startups brasileiras da base do CB Insights, plataforma de análise global, considerando o comparativo dos mesmos dois meses com os últimos seis, para refletir uma realidade mais próxima à que as empresas vivem no momento.
Com a análise dos dados brutos, chegamos aos três produtos e serviços mais procurados nesta quarentena e à lista de startups mais buscadas para atender aos novos anseios: os considerados essenciais – como delivery –; os que oferecem suporte financeiro; e os que facilitam a adaptação à nova rotina em casa.
Dividimos as startups em dois grupos: as que apresentam crescimento exponencial e as que estão em crescimento sustentável. Aquelas que tiveram volume de buscas no mínimo duas vezes maior em março e abril deste ano, em comparação com os últimos meses, entraram no primeiro grupo. Já as que tiveram procura pelo menos 30% superior em comparação ao mesmo período, são as que alcançaram um crescimento sustentável, ou seja, que ampliaram a relevância de atuação junto ao público.
O desejo do consumidor virou necessidade
A busca por produtos e serviços considerados essenciais na adaptação à crise – como delivery – teve crescimento expressivo com o início do distanciamento social. A tendência não é nova, mas o cenário impulsionou hábitos digitais, levando a buscas e compras ativas de itens que deixaram de ser apenas vontade e se tornaram necessidade.
O estudo mostra que buscas relacionadas a alimentos e bebidas cresceram de 30 a 45% e apenas o termo “restaurante delivery” teve alta de 72% na procura.
Busca por itens de conforto também aumentou
Além dos serviços de entrega, itens de conforto e autocuidado também entraram na mesma categoria do que se tornou essencial na quarentena. Com o aumento do home office, as buscas por itens como mesas, cadeiras e roupas subiram 90% durante o período da quarentena. Dentre os itens para cuidado próprio, para a casa ou animais de estimação, a busca ativa por startups focadas em diferentes nichos, como beleza, móveis e marketplaces em geral cresceu 47%.
Consequentemente, startups que oferecem conveniência e segurança para o consumidor neste momento de incerteza foram as mais procuradas no período. Considerando que a tendência já estava presente no mercado antes do distanciamento social, se destacaram empresas de marcas consolidadas e já conhecidas pelo público.
Na nossa avaliação, as startups se reafirmaram junto ao consumidor e demonstraram capacidade rápida de adaptação. Marcas reconhecidas cresceram expressivamente nas buscas, como iFood, Rappi e Loggi. Outras empresas também se destacaram de forma expressiva, como Empório da Cerveja, MadeiraMadeira, Zé Delivery e Melhor Envio.
Conversando com o diretor de Branding e Soluções sustentáveis do iFood, Bruno Montejorge, entendemos o grande desafio que a marca enfrentou com as mudanças. “Do dia para noite, nosso serviço se tornou fundamental para manter o isolamento social e a nossa responsabilidade como empresa mudou de patamar. Mais do que gerenciar um negócio, era necessário cuidar de um ecossistema”, afirmou.
Já o COO da MadeiraMadeira Robson Privado, contou que, nas duas primeiras semanas de pandemia, o número de pedidos caiu bastante. Mas uma vez que o isolamento social perdurou, a busca por produtos para a casa aumentou exponencialmente e a startup chegou a 70% de crescimento nas buscas durante o período.
Isso gerou dois desafios: os fornecedores não sabiam se e como poderiam seguir funcionando, e o time não era mais suficiente para atender a demanda de trabalho. A empresa buscou informações para orientar os parceiros e aumentou o quadro de funcionários em quase 20%. Tudo isso para seguir com o principal foco da empresa: oferecer a melhor experiência para o cliente. Para quem quer saber mais sobre como a MadeiraMadeira cresceu durante esse período, recomendo a Live Session em que conversei com o Robson sobre growth.
Serviços e produtos financeiros seguem crescendo
“Vai ser muito difícil pensar em quem vai querer ir a uma agência bancária depois desta crise. Até as pessoas mais velhas estão percebendo que dá para tomar um cafezinho em casa e falar com o gerente pelo celular”, disse o CEO do Nubank, David Vélez, durante uma live session do Google for Startups da qual participou no fim de abril. Ele avaliou o momento em que estamos vivendo como uma oportunidade para promover a digitalização de produtos e serviços.
O levantamento do Google for Startups confirma essa tendência: se comparado o mês de abril com o mesmo do ano passado, é possível ver um aumento de mais de 130% na busca pelo termo “internet banking”, dez vezes mais por “conta digital” e “empréstimo consignado”, e 75% maior na procura por “poupança”.
Assim como a categoria anterior, as startups com crescimento sustentável se destacaram nas buscas – reforçando a fala de Vélez. Nesse indicativo de interesse por produtos e serviços financeiros, elas representam mais de 55% das startups mais procuradas pelo consumidor no período.
O nosso levantamento confirma essa tendência também na busca por termos específicos: se comparado o mês de abril com o mesmo do ano passado, é possível ver um aumento de mais de 130% na busca pelo termo “internet banking”, 10 vezes mais por “conta digital” e “empréstimo consignado”, e 75% maior na procura por “poupança”.
Compartilho da reflexão do Felipe Arima, Googler que atende a conta da PicPay – o maior destaque entre as startups dessa categoria. As fintechs em geral sempre estiveram em uma espécie de limbo porque o consumidor final tinha mais dificuldade em diferenciar o produto que cada uma entrega. Com o isolamento social, o portfólio com as ofertas mais variadas se tornaram essenciais, o que explica o aumento nas buscas. E aí, se destacaram aquelas com canais que aparecem indexados quando os consumidores buscam ajuda em geral no Google.
Buscando conhecimento na nova rotina
A adaptação à nova rotina influenciou também o desejo de realizar novas atividades em casa, o que levou ao aumento das buscas no Google por softwares de educação em 46% e termos como “educação online” e “programas de graduação” cresceram 73%. Como reflexo, a procura por plataformas que ajudam na experiência de aprendizado remoto ou conteúdo digital ganharam relevância.
Ao contrário das categorias anteriores, esta deu visibilidade a startups que não necessariamente já estavam no imaginário do consumidor e apresentaram crescimento exponencial no período. A maior parte das marcas que entraram nesta categoria são consideradas as que tiveram crescimento exponencial no período e apenas a Sanar se enquadra entre as que tiveram crescimento sustentável.
Comportamentos indicam oportunidades?
O estudo do Google for Startups indica que os hábitos do brasileiro estão mudando e quais são as tendências para um comportamento de consumo cada vez mais digital. Mas o que isso significa para as startups?
As buscas demonstram como as pessoas estão se adaptando para viver após as mudanças impostas pelo distanciamento social e a pandemia, mas não é possível prever neste momento se as tendências vão se consolidar. Por isso, os fundadores de startups precisam ter cautela na hora de considerar os dados para desenhar novas estratégias.
Mesmo assim, podem – e devem – utilizar os insights do estudo para entender o que o seu público-alvo está buscando e como o comportamento no novo normal impacta diretamente o ecossistema de startups.
Acredito também, assim como o Montejorge, que também é necessário ter empatia, principalmente neste momento. “Isso não vale só para este período de pandemia, mas é ainda mais importante. Cada pessoa, cada negócio, cada funcionário está vivendo de forma diferente. A empatia é fundamental para que o diálogo siga fluindo e ações implementadas”, concluiu o diretor do iFood.
O nosso time continua acreditando que o foco na melhor experiência do usuário, na fidelização e retenção do cliente ainda seja a melhor estratégia. A crise traz muitas oportunidades às startups mesmo em meio a tanta adversidade. Porém, estar atento à manutenção do negócio em paralelo ao interesse por tendências e comportamentos do consumidor – que podem ser imediatos ou não – é essencial.