Healthtechs na pandemia: a reestruturação e o crescimento da Cuidas em meio à crise
Em um ano marcado por transformações na sociedade e em todos os setores da economia, as mudanças na área de saúde em 2020 se tornaram sinônimo de oportunidade para startups do setor, como a Cuidas(Cuidas foi adquirida pela startup Alice em novembro de 2021).
Criada em 2018, a healthtech disponibiliza serviços de saúde de atenção primária, conceito que define o primeiro nível de atendimento para diagnóstico de doenças de forma preventiva e rápida. Até o início de 2020, o foco da startup estava em atender pequenas e médias empresas e em oferecer planos com mensalidades até 20% menores do que os tradicionais do mercado. Com a pandemia, essas empresas foram as mais afetadas e a sobrevivência falou mais alto do que o investimento em benefícios. E, consequentemente, o processo de vendas da startup desacelerou.
Mas o que poderia se tornar um problema, virou oportunidade para a Cuidas, que reestruturou o funil de vendas e buscou novos caminhos para atender também as grandes corporações. No meio desse processo, a participação na 5ª turma do Programa de Residência também foi essencial.
Para entender melhor como a healthtech se reinventou em meio à crise e os impactos positivos da Residência no processo, conversamos com a cofundadora e COO, Deborah Alves. Por conta do mês da mulher, aproveitamos o bate-papo para entender a sua experiência como mulher dentro do ecossistema empreendedor, ambiente que ainda é majoritariamente masculino.
Crescimento em tempos de crise
Agilidade foi a palavra de ordem para o crescimento em 2020. Com a liberação da telemedicina pelo Ministério da Saúde no início do ano, o atendimento médico se tornou 100% remoto e foi feito o lançamento de uma nova plataforma, o Cuidas Digital. Como consequência, o faturamento da empresa foi quase três vezes maior em 2020 em comparação com 2019.
"Conseguimos reestruturar toda a operação em apenas duas semanas e saímos na frente de várias empresas de saúde que demoraram para reagir à crise. Lançamos o Cuidas Digital, que tem a mesma lógica de qualidade, construção de vínculo e atenção primária de antes, mas sem a opção do atendimento presencial", conta Deborah.
Com o novo formato, veio a oportunidade de atender pessoas fora da cidade de São Paulo e tornou o produto ainda mais acessível, reduzindo o preço por colaborador em 50%. "A nossa estratégia deu certo também por conta do aumento na procura por informações sobre a COVID-19 e porque as pessoas estavam com medo e ansiosas por conta da chegada do vírus no Brasil. No mês de abril, a nossa demanda foi três vezes maior do que no primeiro trimestre de 2020 inteiro", complementa a COO.
Nesse contexto, a healthtech aumentou o time, investiu na contratação de novos líderes e, com "a casa arrumada", pôde iniciar o seu planejamento de longo prazo e com estratégias para atingir o novo público alvo.
Impactos do Programa de Residência
Em meio à reestruturação, os fundadores começaram a jornada no Programa de Residência. Para Deborah, o workshop sobre Resiliência e Liderança com o ex-Googler e Conselheiro na Founder Bay, Punit Aggarwal, foi o fator que mais ajudou a Cuidas a crescer no período de pandemia.
"Como a gente estava passando por muitos desafios, mudanças e incertezas ao mesmo tempo, a mentoria me ajudou a desenvolver habilidades emocionais. Aprendi muito com o Punit e discutir desafios pessoais e como lidar com as equipes, em meio à turbulência, foi essencial".
Além das mentorias, a cofundadora destaca as técnicas de outbound e OKRs como pontos decisivos para aprimorar o método de vendas da empresa, desenvolver o time de growth e repensar o marketing. "Implementamos OKRs de uma maneira sustentável pela primeira vez e a mentoria de marketing nos ajudou a reestruturar o site e otimizar estratégias de SEO, por exemplo, que impactam diretamente o nosso funil de vendas", complementa Deborah.
"Nosso foco está tanto em fazer a máquina de vendas girar – até para termos um crescimento mais previsível e sustentável –, quanto no produto e nas operações para garantir a qualidade do nosso serviço na hora de atender empresas maiores. Antes da pandemia, queríamos atingir empresas com até 200 funcionários e, agora, as ações serão direcionadas para as que têm mais de mil pessoas. A evolução é necessária", finaliza.
Pouco tempo após o término da 5ª turma, em outubro, a startup anunciou que recebeu aporte de R$17 milhões. Os recursos devem apoiar o seu crescimento nos próximos anos, além da expansão da equipe e da promoção de campanhas digitais da empresa, que foi fundada por Deborah Alves, João Vogel e Matheus Silva.
Aprendizados e conselhos da empreendedora
Deborah ainda faz parte de um grupo bem restrito: apesar das mulheres representarem 43% da rede do Google for Startups, no universo de fundadores e C-Levels, a participação masculina é 2,5x maior, com 72% do grupo sendo composto por homens.
Transitando sempre em ambientes majoritariamente masculinos desde a infância, reforçou que a autoconfiança é o fator mais importante para uma mulher crescer. Deborah começou a participar de Olimpíadas de Matemática com 11 anos e cursou Ciência da Computação, dois lugares que, apesar de distintos, tinham a mesma baixa porcentagem de mulheres entre as turmas.
"Até por uma falta de estímulo da sociedade, nós temos muito medo de errar e, por fim, desistimos de tentar. Em muitos momentos da carreira, me via com medo de dar um próximo passo e, hoje, tento me afastar dessa influência social negativa. Quando aconselho outras mulheres empreendedoras, falo sempre da importância de acreditar em si, mesmo que a gente ainda tenha um longo caminho pela frente para acabar com essa percepção de que os homens são melhores do que as mulheres no que fazem", compartilha.