Entenda como a Hilab se adaptou com rapidez à crise e ampliou sua relevância no mercado de healthtechs
Em 2004, mais de uma década antes da regulamentação da telemedicina no Brasil, dois estudantes de Engenharia da Computação já pensavam em como agregar tecnologia ao setor de saúde para torná-lo mais eficaz e acessível. Na época, Marcus Figueiredo e Sérgio Rogal criaram um software de monitoramento de pacientes à distância, após desenvolverem um trabalho no laboratório da faculdade.
Assim, surgia a Hi Technologies. Hoje chamada de Hilab, a empresa ingressou no mercado focada no desenvolvimento de soluções de tecnologia e de aparelhos médicos. Os fundadores não imaginavam que, 16 (dezesseis) anos depois, a startup se tornaria um serviço de apoio a empresas, órgãos públicos, clínicas,farmácias, convênios de saúde e prefeituras estaduais e municipais no combate à COVID-19.
O ano de 2020 foi de crescimento exponencial para a Hilab, com a crise veio a oportunidade de ampliação das operações da startup para promoção da saúde em âmbito nacional e internacional. A Hilab desta forma, participou do programa Google for Startups Accelerator gerando um salto de relevância da startup no mercado de healthtechs.
Do desenvolvimento de aparelhos médicos ao aperfeiçoamento do seu “laboratório portátil”, o atual carro-chefe da startup, o objetivo dos fundadores em 16 anos à frente do negócio foi sempre o mesmo: democratizar a saúde no Brasil.
A criação do “menor laboratório do mundo”
Depois da experiência na faculdade, os fundadores seguiram focados no desenvolvimento de aparelhos médicos. Em 2009, por exemplo, criaram o próprio oxímetro de pulso – aparelho que mede quanto oxigênio o sangue está transportando – que seria comercializado para mais de 15 países nos anos seguintes.
Mesmo com a boa receptividade do mercado para os aparelhos, a startup mudou o foco em 2016, após receber o seu primeiro investimento. Os problemas estruturais da saúde pública brasileira chamaram atenção, principalmente a ineficiência no nicho de exames e diagnósticos.
“Atualmente, cerca de 70% das decisões médicas são baseadas em exames laboratoriais. Mas o acesso ao diagnóstico ainda é restrito e precário: manter um plano de saúde custa nove vezes mais do que o tratamento gratuito no SUS. Sendo que 70% dos brasileiros dependem do sistema de saúde pública, onde os processos não acontecem com tanta agilidade quanto na rede privada. Nós queremos mudar esse cenário!”, explica o Diretor de Produto e Desenvolvimento da startup, Marcelo Cossetin.
Assim, no ano de 2017, os fundadores decidiram criar o “menor laboratório do mundo”. O aparelho surgiu para realizar exames pouco invasivos, mais baratos do que os oferecidos pela rede privada e que entregassem o diagnóstico do exame com mais agilidade.
Funciona assim: após a coleta de algumas gotas de sangue capilar (punção capilar), a amostra é depositada em uma pequena cápsula, que é inserida dentro do dispositivo. O aparelho, então, cria uma “versão digital” da amostra, transmitida via nuvem para uma central de diagnósticos da Hilab. Por meio do uso de Inteligência Artificial, emitem o laudo em até uma hora, que chega ao paciente via SMS ou e-mail, tudo já em conformidade com a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).
Hoje em dia, os laboratórios portáteis podem ser acessados por pacientes que monitoram a glicemia e encontrados em consultórios médicos, diferentes setores de um hospital – UTIs, emergência e centros cirúrgicos – e farmácias. Foi nesse último que a Hilab apostou quando lançou o seu dispositivo, firmando parceria com duas grandes farmacêuticas no país em 2018, ano seguinte do lançamento do produto.
Expansão e crise
Em 2019, a startup apostou na expansão da sua rede e firmou parceria com mais oito farmacêuticas no Brasil. Também ampliou a oferta de exames e iniciou o diagnóstico de doenças crônicas, infecciosas, deficiência de vitamina D, entre outros.
No final de 2019, o médico infectologista e Chief Medical Officer da Hilab, Bernardo Almeida, alertou o time sobre a chegada de um vírus que iria iniciar uma pandemia no mundo todo. Com a informação em mãos, o time da Hilab se antecipou e iniciou estudos sobre o vírus e como deveriam se adaptar para oferecer o exame para a população. “Em março de 2020, o nosso estudo sobre a COVID-19 já estava concluído, o que nos permitiu adaptação com rapidez e a viabilidade para oferecer a testagem do vírus com custo bem menor”, complementa Cossetin.
Quando a pandemia começou, a maturidade do negócio da Hilab era evidente, uma vez que a startup já tinha canais comerciais com farmácias e atuava junto a dez grandes farmacêuticas brasileiras. A relevância aumentou quando a empresa passou a disponibilizar os seus dados – já automatizados – a empresas e governos, para o mapeamento da taxa de transmissão da doença no Brasil.
Mas a necessidade repentina para atender a alta demanda gerada pelo teste laboratorial da COVID-19 trouxe muitos desafios para a Hilab, que precisou adaptar o serviço para operar de acordo com o novo cenário e suportar o alto volume de trabalho.
Aceleração em meio ao caos
A participação da Hilab no Google for Startups Accelerator foi fundamental para que a startup alcançasse a escala nacional desejada. Com os problemas e limitações mapeados, os fundadores da startup e os mentores da rede do Google for Startups atacaram problemas em três diferentes frentes durante o programa: dados, gestão de projetos e desenvolvimento do produto.
O maior impacto da aceleração foi na gestão de projetos. A empresa cresceu muito rápido e a troca de informações entre áreas não era mais tão efetiva. Para “organizar a casa”, a Hilab seguiu os conselhos dos mentores e implementou reuniões semanais com os gestores de cada área, com follow up ativo dos projetos. Além disso, foi feita uma migração de banco de dados que reduziu o custo com nuvem em 50%, o que possibilitou que recrutassem mais pessoas para atacar as ineficiências da operação da startup.
Como resultado, o time de tecnologia cresceu 46%. “Também entendemos melhor como otimizar a nossa operação com bancos transacionais e conexões diretas com ferramentas de business intelligence. Ainda precisamos definir um pipeline também para esse processo e aprendemos, durante a mentoria, a importância de pensá-lo em etapas que otimizem o processamento de dados”, complementou o Diretor de Produto e Desenvolvimento da Hilab.
Resultados
Até outubro de 2020, a Hilab tinha realizado cerca de dois milhões de exames individuais, incluindo o que detecta a presença de anticorpos contra a COVID-19. O número de pessoas que utilizaram a tecnologia da startup aumentou em quase 50 vezes em comparação com o mesmo período em 2019. Atualmente, o laboratório portátil realiza mais de 20 exames, como HIV, hepatite, dengue, zika, Beta HCG e da COVID-19.
Olhando para o último ano como um todo, a Hilab teve faturamento de 200 milhões de reais e dobrou o seu número de funcionários, além de conquistar mais investidores e lançar uma novidade: o Hilab Molecular. Esse dispositivo realiza testes utilizando biologia molecular, com base no DNA e RNA do próprio vírus analisado.
“O maior objetivo da Hilab é quebrar a barreira de acesso a diagnósticos e à saúde de qualidade”, finaliza Cossetin.