Inovação x COVID-19: como o mercado de startups deve lidar com a crise
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Nos últimos 15 anos, tivemos algumas crises que abalaram os mercados ao redor do mundo, mas nunca passamos por algo semelhante aos problemas causados pela COVID-19. Em momentos como este, é inegável que empreendedores, seus times e seus negócios estejam dentre os mais afetados pelos efeitos econômicos da crise. Sob uma outra perspectiva, é interessante observar também como os empreendedores, pela sua própria natureza, acabam enxergando oportunidades em meio à adversidade. No entanto, é essencial ter atenção antes de tomar grandes decisões enquanto ainda impera a indefinição de futuro.
As últimas semanas marcaram um momento de choque inicial em que os fundadores e os times das startups tiveram que, rapidamente, responder à nova realidade, mesmo sem todas as informações ou mesmo experiências semelhantes na bagagem, e projetar o impacto da pandemia nos seus negócios. Esse impacto, assim como muitas coisas nesta crise, ainda é incerto. As startups por característica estão habituadas a lidar com extrema incerteza, mas a situação atual trouxe variáveis incontroláveis em um jogo que já era desafiador para os empreendedores.
Pelo menos pelos próximos 18 a 24 meses devemos ver startups e pequenas empresas batalhando para se manterem em operação. Infelizmente, vemos os impactos diretos nos números de demissões e as lideranças reduzindo os próprio salários, incluindo os cargos de C-level, como uma forma de amenizar os custos fixos e alongar o horizonte de caixa das suas empresas. Além disso, muitas startups estão revisando toda a sua infraestrutura de nuvem, buscando opções que sejam mais eficientes no curto e médio prazos como o Google Cloud. Ou seja, sacrifícios de todos nas startups para manter o sonho vivo, o ponto mais importante nesta equação toda.
Alguns setores possivelmente terão um movimento de expansão. A saúde, por exemplo, teve a regulamentação do uso de telemedicina durante a pandemia, o que destrava várias soluções e mercados que antes não existiam. Na área da educação, as instituições e alunos estão passando por uma mudança no modelo de entrega de conteúdos e há espaço para apresentar propostas de redução de custos e melhoria da qualidade do formato on-line. Um dos principais motivos pelos quais a educação não foi digitalizada até agora não é porque as pessoas simplesmente preferem o modelo presencial, mas sim porque o modelo digital não encontrou ainda o melhor conteúdo e experiência para o usuário, e é neste ponto em que veremos mais competição e oportunidades. O setor de logística também deve ter um crescimento, mas ainda não é possível afirmar se ele será duradouro em um médio e longo prazo, já que está fortalecido agora por ser um serviço essencial.
Outros setores demonstram potencial de oportunidades, mas não sabemos qual vai ser a sustentação delas. No Google, é possível identificar saltos nas buscas por certos serviços ou produtos, o que pode ser um bom indicativo de intenção de compra e uso. Mas esses interesses vão durar? Ainda é muito cedo para saber.
O que é possível afirmar é que o uso de tecnologia como um todo ganha relevância, pois, mais do que nunca, ela é essencial tanto para as pessoas, quanto para as empresas. Mas é importante que o empreendedor entenda que o acesso ao capital vai ficar mais criterioso. Ainda haverá liquidez, mas esse dinheiro necessariamente vai procurar as melhores soluções para investimento.
Tudo isso faz com que o nível de atenção que os empreendedores necessitam para tomar decisões seja redobrado. É fundamental mapear sinais e entender a força deles. Buscar esses insights a partir de dados, mas tendo clareza de que eles não são determinantes, levando em consideração não só o dia de hoje, mas também o dia depois de amanhã e os efeitos secundários da crise.
Mas tão importante quanto as decisões do que deve ser feito, é entender o que não fazer. Ser muito afoito para investir, por exemplo, considerando o baixo índice de informações disponíveis no momento, não é recomendável, mesmo para quem vê a oportunidade de crescer agora. Não é o momento de fazer grandes investimentos. Além disso, as startups devem ter muito cuidado para não parecerem oportunistas, dado o cenário de impacto econômico e social no país, se aproveitando do momento para se destacar nos mercados em que estão.
No Google for Startups, nosso papel está sendo o de dar suporte imediato para as lideranças e seus times, que estão tendo que tomar decisões duras. Buscamos colocar à disposição recursos, como o apoio de mentores, experts e as nossas tecnologias, que possam ajudá-las com os seus desafios mais específicos. Também repensamos a própria estrutura dos nossos programas. Além de serem remotos, trabalhamos na adaptação de conteúdos para que sejam úteis ao momento, que é de otimização e de buscar reduzir custos adicionais das contas das startups.
Como disse no começo do texto, nós nunca passamos por um momento sequer parecido com este, por isso não existe uma receita de bolo para seguir e resolver a situação. O que precisamos agora é deixar um pouco de lado o já conhecido mantra do crescimento acelerado e focar em manter a gestão e operação em ordem. É preciso ter calma, respirar e analisar o que fazer conforme as condições da economia e dos mercados. O mais importante agora é entender que não é tempo de falar em expansão, mas sim de manutenção do negócio para que ele não perca o valor já adquirido. É tempo de manter o sonho vivo.