Investimento, finanças e a crise: Preparando a sua startup para o que está por vir
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A relação do ser humano com a tecnologia está mudando rapidamente durante a pandemia da COVID-19 e a situação exige práticas governamentais para ampliar o acesso ao mundo virtual, o que está estimulando a criação de uma série de novos produtos e serviços.
Durante uma Live Session do Google for Startups, Ronaldo Lemos, fundador e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, falou sobre como utilizamos a tecnologia e quais tendências e novas oportunidades devem surgir com o pós-crise. Lemos é advogado especializado em tecnologia e proteção de dados e atuou no projeto de construção do Marco Civil da Internet, do Plano Nacional da Internet das Coisas e da Lei Geral de Proteção de Dados no Brasil.
Spoiler alert: o convidado da Live Session acredita que essa experiência vai imprimir novos hábitos na sociedade, mas o Brasil ainda tem alguns desafios para que todos tenham acesso à tecnologia. E as startups e pequenas empresas podem auxiliar na construção da nova realidade digital no país. Veja abaixo um resumo da conversa. Para quem quiser assistir ao bate-papo completo, o vídeo está disponível no fim da página.
Gaps tecnológicos
A COVID-19 obrigou a sociedade a se adaptar ao uso massivo de tecnologia, mas também revelou gaps de alcance digital no país. Uma dessas lacunas é a desbancarização e a sua relevância, que aumentou em tempos de isolamento social. Pouco antes da pandemia, um em cada três brasileiros adultos não tinham conta bancária. Com a crise e os projetos do governo de transferência de renda, o acesso ao serviço se tornou essencial e precisou ser endereçado com urgência, comprovando que é possível aumentar o acesso ao serviço.
“O Governo Federal modificou os processos para transferência da renda básica e, para quem não tinha conta bancária, um aplicativo permitiu criar uma rapidamente na Caixa Econômica Federal, com pouca burocracia. Neste movimento, cerca de 20 milhões de pessoas abriram uma conta pela primeira vez em um período de três semanas. A pergunta que fica é: porque não fizemos isso antes, se era possível?”, questiona Lemos.
A falta de uma identidade digital gratuita e universal é outra dificuldade do Brasil. Para o advogado, o país pode revolucionar os seus sistemas públicos, contando com a expertise de empresas e startups para isso. Aquelas que já operam com blockchain e modelos de certificação mais ágeis podem auxiliar o governo a criar uma identidade 100% funcional para logar nos sistemas públicos, assinar documentos, agendar consultas no SUS, entre outras coisas. Para ele, a situação da COVID-19 precisa ser encarada como uma oportunidade para resolver essas questões.
Benchmark de inovação mundo afora
Para Lemos, a China virou uma potência mundial, a ponto de competir em inovação com o Ocidente, principalmente por causa da competição acirrada entre as startups. O mercado de pontos de devolução de bicicletas compartilhadas é um exemplo. A Mobike foi quem inventou o produto e, um ano após seu surgimento, virou um “unicórnio”. Logo surgiram 140 empresas iguais competindo no mesmo espaço, mas só sete sobreviveram: aquelas que chegaram ao modelo ideal de negócio no país. Ou seja, a alta competitividade permitiu o surgimento de novas empresas e resultou na excelência do serviço.
No Brasil, para criar um ecossistema competitivo entre as startups, é necessário dar apoio maior aos pequenos negócios e condições para que ajudem a resolver problemas de escala nacional. “Precisamos de competitividade e inovação para resolver os gaps no Brasil”, reforçou o especialista.
Infraestrutura, educação e planejamento
A inovação merece atenção no Brasil. Porém, é necessário olhar também para infraestrutura, educação e planejamento, fatores relevantes para qualquer país, de acordo com o diretor do ITS Rio. Na China e na Índia, explica, integrar ao sistema produtivo aqueles que estavam excluídos foi um diferencial, além do investimento em infraestrutura de qualidade para todos e da aposta na educação. “Podemos mudar o país e criar um motor de desenvolvimento muito poderoso que pode durar por décadas e colocar o Brasil em um outro patamar, onde todos prosperem juntos”, reforçou.
Para Lemos, a educação é o único fator que pode revelar como um país será no futuro. E é necessário utilizar a tecnologia da forma mais eficaz possível para ampliar o acesso à educação de qualidade. Isso seria possível unindo o esforço do governo às startups que estão criando modelos para alcançar este patamar. “Uma pesquisa sobre o nível de aprendizado no mundo todo revela que o top 10 dos alunos brasileiros, de escolas públicas e privadas, equivale aos 10% piores na China. O que só comprova que precisamos investir em educação básica de qualidade para todos”, exemplificou.
Lições
Considerando esse cenário, o expert em tecnologia e tendências entende que o Brasil também precisa passar de consumidor para produtor de inovação. “Aprender como transformar conhecimento em produtos e serviços é o melhor conselho que posso dar a empreendedores e founders de startups. Assim, eles poderão participar da construção de uma nova realidade digital no país”, reforçou.
“Temos que transformar qualquer conhecimento em uma prática nova. Ao contrário do que muitos pensam, inovação não é algo gigantesco. É aprender a tocar violão melhor, fazer uma aula de yoga pelo YouTube, como consertar o chuveiro etc.”, finalizou.
Confira a live completa abaixo: