Encontrar o sucesso pelo “vale da tristeza”
Startups são sinônimos de correr riscos, avançar rápido e aprender. Mas o que acontece quando nossos riscos não compensam, encontramos obstáculos que não esperávamos ou entendemos o quanto não sabemos? Nossa euforia dá lugar ao desânimo e entramos no chamado trough of sorrow.
O trough of sorrow – que em tradução livre podemos chamar de “vale da tristeza” – é um termo comumente usado para explicar o quão difícil é trabalhar no ecossistema de empreendedorismo. As startups – e experiências intensas em geral – aumentam os desafios que enfrentamos. O sucesso pode vir somente após esforços repetidos. E se ele não for encontrado por meio do trabalho na startup, os fundadores precisam encontrá-lo de maneiras diferentes.
Como pesquisador de longa data, tive a oportunidade de trabalhar em diversos ambientes do ecossistema de startups. Cometi muitos erros e a maioria das minhas tentativas não atingiu o modelo de negócio certo para o mercado em que estava tentando atuar. Mas esses trabalhos são dos que mais me orgulho e com os quais mais aprendi. No fim, ganhei resiliência para lidar com contratempos e também ampliei minha capacidade de apoiar outras pessoas.
Resiliência
A maioria dos fundadores naturalmente gosta de inovar, trabalhar com outras pessoas e construir algo importante. Porém, quando começamos a enfrentar cada vez mais contratempos, fica ainda mais difícil permanecer com um espírito criativo e colaborativo. É natural que obstáculos afetem negativamente nosso humor. Mas muitos de nós desabamos ainda mais por meio de comportamentos como perfeccionismo, ficar na defensiva e autoisolamento. Aprendi a reconhecer e provocar esses comportamentos para poder lidar com os contratempos com autocompaixão, e assim sinto que tenho menos necessidade de me desculpar quando estou sobrecarregado.
Às vezes, fico preso em uma busca pela perfeição, com a mente cheia de pensamentos, como: "Preciso fazer isso direito"; "Há muita coisa a trabalhar nisso ainda"; "Minha equipe está contando comigo" ou "Tenho que me preparar para essa possibilidade.”
O perfeccionismo pode ajudar a manter a excelência quando necessário, mas é um padrão implacável para si e para a equipe. Quando reconheço esses pensamentos, tento me perguntar: "O que eu temo é realmente tão ruim assim?"; "Esse problema é de minha responsabilidade?"; "Podemos resolver o suficiente para seguirmos com o planejamento atual?"; "Podemos solucionar problemas em potencial no futuro, quando tivermos mais informações?" e "Se isso não funcionar, podemos aprender alguma coisa?"
Depois de responder a essas perguntas, costumo descobrir que fiz o melhor possível sob as circunstâncias em que estou e posso deixar de me preocupar com coisas que não consigo controlar.
Outras vezes, tenho medo de rejeição e ajo defensivamente. Meus pensamentos iniciais podem ser: "Essa crítica está errada, eles não me entenderam"; "Não posso pedir ajuda porque a equipe pensará que sou um impostor"; ou "Receio que meus investidores / clientes não vão gostar disso, então não vale a pena tentar.”
Atuar na defensiva é natural e pode ajudar a proteger a si mesmo ou a sua startup. Mas também pode prejudicar os relacionamentos, desacelerar ou impedir a inovação. Então, agora eu tento sorrir e questionar: "Eu entendi as críticas corretamente?"; "Existe um ponto de verdade nelas?"; "Como a pessoa que está criticando se sente agora?"; "Há mais alguma coisa acontecendo com essa pessoa?"; "Pedir ajuda pode ser melhor para o projeto?"; "A expectativa em relação ao meu desempenho está correta?"; e "Como eu poderia experimentar uma ideia com menos riscos?"
Com isso, percebo que a habilidade de aprender e se adaptar tende a ser algo muito respeitado pela maioria das pessoas.
Por fim, frequentemente assumo muitas responsabilidades sozinho e fico exausto, com pensamentos como: "Só eu posso resolver esse problema"; "Estou sozinho"; "Isso não é mais divertido"; ou "Quero desistir".
É bom poder contribuir com a nossa parte, mas nós não estamos sozinhos e podemos pedir ajuda. Nesses momentos é bom pensar: "Alguém pode contribuir com esse trabalho para que eu possa me concentrar em outra tarefa?"; "Com quem eu posso falar que já passou por algo assim antes?"; e "Existe um mentor, coach ou terapeuta com quem eu possa conversar?"
Então, tenho mais tempo para cuidar de mim e melhorar meu estado emocional e físico: dormir, comer, jogar, me exercitar, meditar, fazer um diário, praticar gratidão, dar e receber apoio emocional.
Apoio
Sou grato aos meus amigos, familiares e profissionais que me apoiaram em tempos difíceis. Sabendo quanta diferença o apoio faz, parece-me ainda mais importante apoiar os outros quando posso. Quando percebo alguém demonstrando estar triste ou com raiva, ou se comportando de maneira diferente, digo a eles o que notei e pergunto como estão se sentindo.
Como membro da comunidade Blue Dot do Google, aprendi a ouvir ativamente. Quando alguém está angustiado, reservo tempo e um espaço privado, para que possa me concentrar na pessoa. Depois de ouvir, faço perguntas esclarecedoras, especialmente sobre sentimentos. Se eu não receber uma resposta, espero. O tempo ajuda na tarefa de se entender e se expressar melhor. E, finalmente, procuro resumir o que a pessoa compartilhou comigo. Na maioria das vezes, isso é suficiente para ajudar. Às vezes, minha síntese fornece informações, mostrando um padrão ou diferenciando observações de interpretações. O importante é que a pessoa que estou ajudando sabe que há outra pessoa que a entende e se importa com ela.
Também aprendi que ouvir, resumir e fazer perguntas são ótimas estratégias para liderar equipes. Uma startup contrata as melhores pessoas disponíveis para trabalhar no projeto, e deve confiar nelas para fazer o melhor e tomar boas decisões quando tiverem as informações e o ambiente certos. Vale a pena descobrir quais são os pontos fortes e as experiências de cada membro da equipe e perguntar se eles precisam de mais informações ou de um ambiente diferente para apoiá-los.
Sucesso
Espero que você tenha encontrado ideias para ajudá-lo a atravessar o “vale da tristeza” e encontrar um caminho mais leve em direção ao sucesso! Eu recomendo os seguintes links (em inglês) para quem deseja se aprofundar no assunto:
A importância do fundador emocionalmente apto por Emily Anhalt
Relações entre cofundadores por Ester Perel
Busque Dentro de Você por Chad-Meng Tan
Trabalhar com baixas emocionais em uma startup ainda será difícil, mas vale a pena investir em algo novo, mesmo que seja desafiador.
E vale a pena mesmo que sua startup não seja um sucesso. Se isso acontecer, você ainda poderá obter sucesso pessoal e profissional em seus aprendizados com a experiência, os relacionamentos que fez e as oportunidades que virão.