SafeSpace: transformando o ambiente corporativo em um lugar seguro
Rafaela Frankenthal é uma empreendedora que, em busca de romper com alguns paradigmas de mercado, resolveu se aventurar em um mestrado sobre estudos de gênero em Londres. O ano era 2019 e a ideia surgiu de maneira muito embrionária, mas com grande potencial: trazer para o Brasil um conceito de canal de denúncias que inspirasse confiança e realmente ajudasse as empresas a solucionar casos de má conduta no ambiente de trabalho.
Segundo uma pesquisa feita pela MindMiners em 2019, 96% dos funcionários no Brasil já passaram por alguma situação de discriminação, assédio sexual ou assédio moral no ambiente de trabalho, mas apenas 12% relatam o ocorrido internamente. Essas estatísticas aumentaram a inquietação de Rafaela, e trouxeram a certeza de que sua ideia tinha potencial para preencher uma grande lacuna no mercado brasileiro. Assim surgiu a semente do que viria a ser uma plataforma que promove um espaço seguro para colaboradores dentro do ambiente de trabalho: a SafeSpace.
A empreendedora então se uniu a suas amigas Natalie Zarzur, hoje responsável por Sucesso do Cliente & Operações, e Giovanna Sasso, da área de Produto & Design, para viabilizarem o projeto e, ao encontrarem a desenvolvedora Claudia Farias, tiraram o sonho do papel. “Fomos movidas pela mesma paixão e desejo de construir um canal ao qual gostaríamos de ter tido acesso em nossos antigos empregos”, comenta Giovanna. “O canal da SafeSpace foi projetado pensando nas pessoas, e não nas empresas. Para isso, quebramos o paradigma da denúncia e trabalhamos mais o lado do aprendizado e da inclusão”, acrescenta.
Segundo Giovanna, esse posicionamento é uma transformação do status quo dos canais tradicionais, o que tem sido bastante efetivo para o cotidiano de diversas empresas.
Por meio da tecnologia, a SafeSpace se posiciona como uma plataforma SaaS que permite que grandes empresas resolvam dificuldades relacionadas a compliance e recursos humanos de forma eficiente, confiável e segura, tanto para a própria organização, quanto para o colaborador. Com isso, o canal de comunicação oferecido pela startup foi totalmente pensado e desenvolvido levando em consideração o desconforto geralmente vivenciado diante de situações dessa natureza, e focando em acolher todos os lados de forma justa e segura.
Um lugar seguro para crescer
A participação no programa Google for Startups Accelerator veio no momento perfeito. Com o desafio técnico de simplificar os relatórios com o uso de Inteligência Artificial (IA) e Machine Learning (ML), a SafeSpace precisava ter em mente a escalabilidade do produto combinada ao uso de novas ferramentas de automação. “Em outras palavras: queríamos transformar a nossa plataforma em um diálogo”, explica Claudia Farias.
“Hoje, vendemos o canal de comunicação para as empresas e usamos a tecnologia para gerar os relatórios de acordo com o que é reportado pelos colaboradores”, conta Giovanna. “No futuro, queremos usar IA e ML para mitigar os riscos e auxiliar na tratativa e resolução dos relatos de acordo com as palavras usadas”, detalha. Segundo a designer, a SafeSpace ainda está dando seus primeiros passos com as tecnologias mencionadas, e as mentorias do programa foram de extrema importância para aproximá-las desse universo mais técnico.
Quando entraram no programa, tinham uma vaga ideia do que queriam fazer, e foram moldando e aperfeiçoando o projeto conforme as orientações dos especialistas. Para Giovanna e Claudia, os mentores as ajudaram a entender o que, de fato, precisavam fazer e como deveriam se preparar para integrar essas tecnologias. “Já estávamos com o MVP [do inglês, Minimum Viable Product, significa uma versão simplificada de um produto, com suas principais funcionalidades], mas já sabíamos que precisávamos de várias melhorias e também tínhamos o objetivo de validar nosso produto. Por isso, acredito que o programa veio no momento certo”, detalha Claudia.
Para elas, o maior impacto gerado pelo Accelerator foi a combinação das ferramentas CSML + Firebase + Dialog Flow, que fez com o que o número de relatórios – no caso da startup, tem a ver com os relatos feitos pelos colaboradores das empresas – gerados aumentasse em três vezes. “Isso corresponde, em média, a uma queda de um mês em dez dias para gerarmos resposta a um problema. Claro que precisamos considerar que alguns casos demandam mais tempo do que outros, dependendo da gravidade e da classificação do problema, mas essa redução de tempo é extremamente significativa”, complementa a engenheira.
Além disso, obtiveram uma redução de 30% no custo de desenvolvimento do chatbot usando CSML e Dialog Flow, e diminuíram de seis para três meses o tempo de desenvolvimento da plataforma em que os relatos são feitos. “A aceleração do Google e as ferramentas oferecidas nos permitiram otimizar todo o processo dos relatos, estreitando ainda mais o contato humano, que é tão valioso para os nossos clientes”, explica a designer Giovanna.
Prontas para liderar
Pela primeira vez na história do Google for Startups Accelerator, o programa teve uma turma totalmente formada por empresas que têm mulheres em posições de liderança. Como parte da estratégia de acelerar a representatividade no ecossistema de inovação, essa edição contou com uma mentoria exclusiva focada no desenvolvimento e capacitação dessas lideranças, além das já tradicionais sessões voltadas a solucionar os desafios técnicos.
“O tema ressoa muito com a SafeSpace, porque somos uma empresa fundada inteiramente por mulheres. Além dos desafios técnicos, ter uma mentoria exclusivamente voltada para liderança feminina foi um fator muito importante para nos inscrevermos no programa”, comenta Giovana Sasso, que participou da oitava turma junto com sua colega Claudia Farias.
Para as duas participantes, a troca com outras mulheres foi extremamente valiosa, e trouxe muitos aprendizados. “Além de gerar mais empatia, foi muito interessante sentir, na prática, o que é estar em um espaço seguro e confortável para expor minhas vulnerabilidades. Foi emocionante ver esse aspecto casar tão bem com a nossa missão, e poder me colocar do outro lado, que é o de quem fala”, complementa Giovanna.
Para Claudia, uma mulher na área de tecnologia, um dos maiores desafios foi olhar para todas as suas habilidades e conquistas, e reconhecê-las. Durante o workshop “I Am Remarkable” (iniciativa do Google que incentiva mulheres e outras minorias a celebrarem suas conquistas no ambiente de trabalho), a engenheira conta um pouco sobre sua dificuldade durante um dos exercícios. “Naturalmente, por sermos mulheres, temos que ficar o tempo todo nos provando. Em áreas mais técnicas isso é ainda mais acentuado, principalmente por ser um ambiente majoritariamente masculino”, relata. “Foi na hora de parabenizar a dona de todas aquelas conquistas que a minha ficha caiu: a mulher que conquistou tudo aquilo era eu!”
O futuro é inclusivo. E seguro.
Os próximos passos da SafeSpace, além de ser uma empresa cada vez mais baseada em tecnologia, é aprimorar a jornada dos relatos e incrementar sua oferta de serviços para que as grandes organizações se tornem espaços cada vez mais seguros.
“Hoje entendemos que o canal que já oferecemos é o primeiro passo para atacar os problemas de má conduta”, diz Sasso. “Mas queremos oferecer treinamentos para as lideranças e para as equipes, diversificar as formas como os relatos são feitos e aprimorar, com tecnologia, a apuração dos casos com sugestões de como eles podem ser resolvidos”.
Para além das inseguranças dos colaboradores em relatar, existe também a insegurança da própria empresa para ouvir. É por isso que a SafeSpace quer ser a voz de quem precisa ser ouvido dentro do ambiente corporativo. E, mais do que isso: incentivar a coragem para que as pessoas falem e, a partir do diálogo, continuar criando espaços cada vez mais seguros para colaboradores e empresas.